terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Insónia

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234...235...262...289, foram os carneirinhos brancos que me cansei de contar, um atrás do outro, no intervalo dos reflexos de luz que penetravam na minha janela, com o à vontade de quem chega a casa.
Dei por mim a ansiar várias vezes o canto do galo sobre a madrugada, como fazia na minha infância, no quartinho da casa para a qual os meus pais me arrastavam sucessivamente todos os fins de semana.
Soergui-me e com o despontar da luz das primeiras horas, libertei-me do emaranhado de tecido que me cobria, abandonando os meus pés ao choque frio do soalho. Tinha de sentir o ar da manhã que nascera.
Bati a porta de casa e mergulhei nas pedras da calçada desta Rua Anchieta que não consigo abandonar. Cheguei até meio e sentei-me como habitualmente na pedra manchada do nº 15. Este é o único lugar onde a minha rua respira na sua verticalidade. O prédio do lado oposto é mais baixo que os demais, deixando-nos vislumbrar a torre da basílica e mais azul do céu. Gosto de me sentar ali, à espera que o sino toque, a admirar a simetria dos edifícios, uns rejuvenescidos, outro esquecidos, uns de cores alegres, outros de cores gastas e azulejos antigos, que exibem cansados as mazelas do tempo, um pouco como noites mal dormidas.
- Olá –diz-me o meu pequeno vizinho de saída para a escola.
- Olá Tomás, bem disposto? – perguntei
- Sim, o que estás aqui a fazer outra vez? – perguntou-me.
- Oh Tomás, já sabes, vim só respirar um bocadinho – disse-lhe esboçando um sorriso.
- Olha sabes uma coisa, já sei contar até 100!
- Que bom Tomás! Isso é fantástico e sabes que mais, vou contar-te um segredo. Vais descobrir que existem muitos mais números e vais conhecê-los como a palma das tuas mãos!


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